quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ler sempre! - Espiritualidade Essencial - Roger Walsh



Estamos apenas meio adultos e meio acordados
Os psicólogos concordam agora que o desenvolvimento humano passa por três estágios importantes: pré-convencional, convencional e pós-convencional, também conhecidos como pré-pessoal, pessoal e transpessoal. Nascemos desnorteados e insociáveis no estágio pré-pessoal e pré-convencional, sem sentido coerente de nossa condição de pessoa e sem idéia das convenções da sociedade. Somos em seguida gradualmente aculturados, informalmente na família, e formalmente no sistema educacional.
Dessa forma, somos apresentados - e hipnotizados - à visão convencional das coisas. Na maior parte, chegamos a ver e agir conforme o sugerido pela sociedade. Tendemos a presumir que as crenças de nossa cultura são válidas, que a moral é adequada, e os valores, satisfatórios. Também aceitamos sua visão do mundo - sua representação do universo e de nós próprios. Amadurecemos para o estágio convenciona/pessoal e nos entrincheiramos com firmeza em sua visão da realidade. Felizmente, há muita coisa valiosa na visão convencional do mundo.

Através de séculos e sociedades, contudo, sábios lamentam as limitações do desenvolvimento convencional. O convencionalismo está associado à percepção nublada e modos de vida inautênticos e insatisfatórios. Na Ásia, essa percepção distorcida é descrita como maya, uma ilusão ou sonho.
As tradições ocidentais compõem um diagnóstico semelhante. Tanto o Islamismo quanto o Cristianismo descrevem nossa visão como velada, enquanto filósofos existencialistas reclamam que a vida convencional é superficial, não reflexiva. Alguns psicólogos lamentam que vivemos em um "transe de consenso", ou "hipnose compartilhada", e que em seu pior momento, como nas guerras bárbaras ou no genocídio em massa, isso se toma uma "psicose coletiva". William James, com freqüência considerado o maior psicólogo e filósofo americano, resumiu nossa condição em sua forma pungente de costume:
Comparados com o que devemos ser, estamos apenas meio acordados. Nosso fogo é umedecido, nossa brisa é diminuída; usamos uma pequena parte apenas de nossos recursos mentais e físicos.
Essas visões do Oriente e do Ocidente, da religião, filosofia e psicologia convergem para uma conclusão surpreendente de enorme importância. Estamos apenas meio adultos e meio acordados. O desenvolvimento seguiu do pré-convencional para o convencional, mas depois foi pulverizado até a parada em um transe semiconsciente. Em geral, não reconhecemos esse transe por várias razões: somos hipnotizados desde a infância, todos compartilhamos isso, e vivemos no maior de todos os cultos, isto é, cultura. Grande parte das aflições de nossas vidas, o tumulto em nossas relações, e as tragédias do mundo começam a fazer sentido quando esses fatos são apreciados.

Enquanto a sociedade apoia o desenvolvimento do pré-convencional para o convencional, em geral negligencia ou até resiste com violência ao desenvolvimento adicional. Por quê? Porque a sabedoria pós-convencional pode minar seriamente as suposições e os modos de vida convencionais, os inumeráveis mitos compartilhados (como aquele que diz que o dinheiro garante a felicidade ou que nossa nação é superior) que anestesiam os indivíduos e a sociedade e mantêm o status quo social. Embora esses mitos confortem, o fazem a custo considerável. A pessoa que busca crescer além do costumeiro nível convencional não pode esperar grande apoio da sociedade.
Crescer significa também superar nossas resistências pessoais. É surpreendente, mas tememos nosso potencial de grandeza quase tanto quanto nossa fraqueza atual. Uma razão para isso é que nos preocupamos em não parecer vaidosos, inflados ou pomposos. Tememos também que se crescermos ficaremos muito diferentes. Quem seríamos nós então, que faríamos, que novas responsabilidades teríamos que enfrentar? Tudo seria novo e estranho, pois o crescimento verdadeiro envolve o movimento do conhecido para o desconhecido. Teríamos que abandonar os velhos mitos familiares e as histórias sobre o que somos, pois, como reconheceu a psicóloga Jean Houston, temos que:

morrer para uma história, um mito, a fim de renascer para um maior...O desenvolvimento envolve o abandono de uma história menor pelo despertar para uma maior.

Um comentário:

  1. Mario , ouço vc no rádio há muito tempo...vc já me ajudou muito , hoje soube do blog , vou passar sempre por aqui , muito obrigada por mais esse espaço , onde poderemos aprender , refletir e progredir...
    Grande abraço!
    Claudia Di Genova

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